Kendrick Lamar transforma o Allianz Parque em altar do rap e consagra sua melhor apresentação no Brasil

Kendrick Lamar
Foto: @nydpedro

Não é por acaso que Kendrick Lamar é apontado como o maior rapper de sua geração. Aos 38 anos, o artista californiano retornou ao Brasil com a Grand National Tour — e fez do Allianz Parque um verdadeiro altar erguido ao poder de sua obra. Diante de um público de quase 40 mil pessoas, Kendrick entregou não apenas um show, ele orquestrou uma experiência imersiva, íntima e explosiva, digna do legado que construiu ao longo de seis álbuns e múltiplas revoluções no rap.

Quase dois anos depois da sua última passagem pelo país, o rapper cumpriu a promessa feita em 2023. Dessa vez, em formato solo, trouxe um espetáculo calcado em GNX, seu novo disco, mas que também revisita, com rara fluidez, as fases que moldaram sua trajetória. Um show em quatro atos, amarrado por interlúdios audiovisuais que encenam uma espécie de interrogatório psicológico: “Você é viciado em atenção?”, pergunta uma voz. E Kendrick responde com performance.

Após cerca de uma hora de atraso, as luzes se apagam. No telão, a silhueta do artista anuncia o início com “wacced out murals”, como uma tempestade prestes a desabar. Em questão de segundos, o Allianz explode. A partir dali, não haveria respiro. Nem dúvidas.

Kendrick Lamar dita o ritmo

No primeiro ato, o rapper investe em faixas que elevam a energia coletiva: “King Kunta”, “N95”, o primeiro verso de “tv off” e “euphoria” preparam o terreno. Ao lado de um corpo de dançarinos milimetricamente coreografado, cada faixa se torna cena e um teatro rítmico que dá corpo ao discurso. Assim, Kendrick não apenas canta, ele encarna cada verso.

O segundo ato mistura introspecção e catarse. Sentado, quase confessional, entoa “reincarnated” com um tom emocional que contrasta com a sequência devastadora de hits que vem na sequência: “HUMBLE.”, “Backseat Freestyle” e, principalmente, “Family Ties” colocam o público em transe. A resposta é coletiva. Não há um corpo parado.

A cada transição de ato, os vídeos retomam a narrativa interior de Kendrick, às vezes introspectivo, outros momentos desafiador. É nessa costura que o show se revela maior que um setlist. Na segunda metade, o show mergulha na memória afetiva do público.

“Swimming Pools”, “Poetic Justice” e “Money Trees” ecoam como hinos de uma geração. E “m.A.A.d city”, reinventada numa versão melódica, emociona ao reconfigurar um clássico sob nova luz.

O desfecho

O bis, como se esperava, veio com força simbólica. De volta ao palco, o rapper emenda “luther”, o verso final de “tv off” e encerra com a catarse coletiva de “Not Like Us”, a diss track que já entrou para a história como um divisor de águas no rap mundial. São Paulo ecoa cada palavra, principalmente o “Lá menor”.

O desfecho vem com “gloria”, transformando o estádio em ritual, quase litúrgico. “Essa é a minha primeira turnê mundial, mas não será a última. Brasil, eu te amo”, diz Kendrick antes de deixar o palco.

Estive presente em todas as suas vindas ao país — Lollapalooza em 2019 e GP Week, em 2023 — e posso afirmar: foi sua apresentação mais completa e impactante em solo brasileiro. Mais intenso e perfomrático, Kendrick dominou o palco com a serenidade de quem sabe o que representa.

Mesmo sem casa esgotada numa terça-feira, o Allianz foi palco de um momento histórico. Kendrick Lamar entregou um espetáculo que extrapola a música. Fez do palco uma extensão sua, e do show uma celebração viva da cultura que o tornou imortal.

Setlist

  1. wacced out murals
  2. squabble up
  3. N95
  4. King Kunta (trecho)
  5. ELEMENT.
  6. euphoria
  7. hey now
  8. reincarnated
  9. family ties (Baby Keem cover)
  10. Swimming Pools (Drank)
  11. m.A.A.d city (Sweet Love Remix)
  12. man at the garden
  13. dodger blue
  14. Like That (Future & Metro Boomin cover)
  15. DNA.
  16. GOOD CREDIT (Playboi Carti cover)
  17. LOVE.
  18. Money Trees
  19. Poetic Justice
  20. luther
  21. tv off
  22. Not Like Us
  23. gloria

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Felipe Mascari

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