Sobriedade e reencontros: como o Deftones construiu sua obra-prima moderna em “private music”

Deftones - private music

A atual fase do Deftones é, literalmente, objeto de estudo. Não é exagero dizer que o grupo liderado por Chino Moreno vive em 2025 seu melhor momento desde o início dos Anos 2000, quando conquistou o mundo com discos como White Pony e Around the Fur, que saiu em 1997 e marcou o som da virada do milênio.

Em 2020, essa grande fase já começava a dar sinais e o ótimo Ohms foi um produto interessante de uma banda que se recusava a envelhecer, sempre expandindo seus horizontes sonoros apesar de manter uma identidade própria inconfundível. Não à toa, são inúmeros os exemplos atuais de bandas com sonoridades inspiradas nos caras – de Thornhill e Loathe a gigantes do Metal Moderno como Sleep Token e Bring Me The Horizon, todos têm o Deftones como referência.

Então, chega 2025. Em meio a turnês aclamadas e lotadas – incluindo a maior como atração principal em toda a sua carreira -, o Deftones decide finalmente colocar fim a todos os rumores que circulavam há anos de que um novo disco estava a caminho. private music foi anunciado oficialmente com pouca antecedência, e chega às plataformas digitais já em 22 de Agosto, mas o TMDQA! teve o prazer de ouvi-lo antecipadamente para bater um papo com o baterista Abe Cunningham.

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Deftones e a nova identidade de private music

O primeiro single do álbum, “my mind is a mountain”, chegou e foi imediatamente aclamado pelos fãs. Sem trazer muitas novidades, a faixa resgata aquela sonoridade clássica de uma banda que sabe muito bem que faz parte de um revival. A reação inicial foi de alegria por ouvir algo que remetia aos trabalhos clássicos com um quê de Mastodon e The Smashing Pumpkins, mas logo veio a preocupação: será que teremos mais do mesmo?

A resposta é um sonoro não. Na íntegra, private music mostra que o Deftones reverencia seus próprios discos, mas não se limita a eles – afinal, há muitas referências de elementos de Around the Fur e White Pony e a escolha de Nick Rasculinecz (Foo Fighters, Korn, Evanescence, etc.) como produtor também evidencia a intenção de se aproximar de Diamond Eyes e Koi no Yokan, álbuns produzidos por ele no passado. Na conversa com o site, no entanto, Abe Cunningham creditou Nick por esse processo de busca pela inovação:

“Nós não podemos evitar de soar como nós mesmos, sabe? E não há nada de errado nisso, mas sempre tentamos ir um pouco além. Sabe, não estamos fazendo as músicas mais complicadas do mundo. [risos] Mas o Nick, ele é um cara das canções. Ele realmente nos ajuda a focar nas canções e, quando falamos até mesmo de várias das coisas que Chino faz vocalmente nesse disco, são coisas que ele normalmente não tentaria porque, sei lá, ele duvidaria de si mesmo, algo assim. E o Nick ficou tipo, ‘Não, tenta aí’. E isso fez ele ganhar confiança, e portanto os vocais dele são iguais aos de antes mas com algumas coisas novas que ele tentou.”

A diferença é perceptível. Enquanto Ohms parecia mostrar uma banda que começava a trabalhar a ideia de uma nova geração consumindo sua música, private music é um atestado de que eles entenderam que o motivo para esse sucesso recente não é o passado, e sim a essência da banda.

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private music é um atestado à essência do Deftones

Em sua totalidade, private music é um álbum que demonstra por que o Deftones consegue ser tão especial. Apesar das bandas mais recentes citadas acima terem suas próprias identidades construídas com uma ajudinha de Chino e companhia, não faltam exemplos de grupos com sonoridades que parecem tentar copiar aquilo que deu certo para eles. O novo disco mostra por que todas elas falham, por mais que criem algo agradável muitas vezes.

Um ótimo exemplo é o single “milk of the madonna”: a música tem absolutamente tudo que um clássico do Deftones precisa ter, mas ao mesmo tempo provoca o ouvinte o levando para um lugar diferente. Seja através dos vocais mais ousados de Chino Moreno, na linha de bateria absolutamente genial e cheia de groove de Abe Cunningham, na atmosfera impressionante criada pelo DJ Frank Delgado ou, claro, nos riffs igualmente nostálgicos e inéditos de Stephen Carpenter, a faixa é um exemplo de algo que, paradoxalmente, cabe em qualquer disco do Deftones mas não se contém a nenhum deles.

Aliás, a banda sempre teve aversão a ser colocada em uma caixa. Mesmo na época do Nu Metal, o Deftones sempre rejeitou esse rótulo – talvez por implicância, talvez por saber que limitar seu som a isso era muito pouco. Hoje, tantos anos depois do auge do gênero e com ele mais em alta do que nunca, eles continuam deixando claro que não podem ser contidos a um único aspecto.

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As camadas de private music

Um dos principais aspectos do Deftones é a sua capacidade de unir o peso característico do Metal a elementos que evocam outros sentimentos, como a sensualidade. A banda, inclusive, foi a única de Rock citada em um estudo sobre as músicas mais ouvidas durante o sexo – e private music deve continuar essa tradição.

A segunda canção do álbum, “locked club”, já é um exemplo disso. O verso provoca tensão, enquanto o refrão traz aquele alívio que complementa perfeitamente a atmosfera; algo que o Deftones faz como ninguém.

Aproveitando a deixa para mergulhar mais a fundo em outras faixas do trabalho, outro exemplo é “cut hands”, que aparece como grande destaque do álbum. Com um riff digno de Diamond Eyes, a faixa aposta na pegada mais industrial/hip hop que marcou o disco de estreia Adrenaline, mas dessa vez com um refrão suave e delicioso que também serve para quebrar a tensão e levar o ouvinte às nuvens antes de um final apocalíptico.

Curiosamente, a nona faixa termina com uma ligação quase imperceptível a “~metal dream”, uma das apostas mais ousadas do disco. O refrão aberto e explosivo parece pronto para ecoar por grandes palcos ao redor do mundo, assim como em “infinite source”, outro dos principais destaques do disco; nesta, o dueto da guitarra de Carpenter com os vocais de Moreno cria uma faixa com toda cara de que se tornará queridinha dos fãs da nova geração.

Aliás, voltando ao tema sensual, a própria “infinite source” também traz aquela receita exclusiva do Deftones que ficou tão conhecida em “Sextape”, clássico de Diamond Eyes que certamente está presente em muitos quartos por aí. Nesse mesmo sentido, “i think about you all the time” é uma surpresa grata, recriando a dinâmica crescente e envolvente sob uma roupagem mais Indie e minimalista, se tornando uma das canções mais únicas da banda e evidenciando as experimentações vocais de Chino, que lembra até Morrissey em alguns momentos.

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As longas “souvenir” e “departing the body” também chamam atenção pela construção sonora que usa bem os longos minutos dedicados a elas, acreditando também no potencial do próprio público para consumir algo assim. O contraste entre “souvenir” e a faixa seguinte, “cXz”, também aposta na teoria de que o público irá curtir o trabalho na íntegra, algo que parece essencial para compreendê-lo.

Por fim mas definitivamente não menos importante, “ecdysis” é um excelente cartão de visitas para a nova “cozinha”, com a estreia do baixista Fred Sablan se fazendo sentida ao lado do groove sempre irretocável de Cunningham. A canção é uma das que funciona melhor sozinha, e até causa estranheza não ter sido escolhida como single!

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Sobriedade e autoconfiança: a melhor fase do Deftones

30 anos depois de sua estreia oficial com Adrenaline, o Deftones nunca esteve melhor – em todos os sentidos possíveis.

A banda está lotando shows por onde passa (inclusive o Brasil em 2026!), conversando com uma nova geração de fãs que renova o “prazo de validade” do grupo e compondo algumas de suas melhores músicas da carreira, mas a fase pessoal também é incrível – e a excelência de private music é resultado direto disso.

Na conversa com o TMDQA!, Abe Cunningham apontou que, para além da confiança instalada por Nick Rasculinecz como produtor, o vocalista Chino Moreno renovou suas forças ao encontrar a sobriedade nos últimos anos.

“São três anos de sobriedade para o Chino, e isso é algo gigante, enorme para encontrar o foco, a autoconfiança novamente. Confiar em si mesmo, saber que ele pode fazer isso sem essas coisas, é gigante. Sabe, durante ‘Ohms’, todos esses fatores… a gente fez o disco, mas havia muita bebida, muita coisa. Então, isso é algo totalmente novo.”

Se depender de private music, a fase boa está renovada por muito tempo e a nova geração de fãs do Deftones finalmente tem um clássico para chamar de seu com o melhor trabalho da banda em mais de uma década. Ouça em todas as plataformas no dia 22 de Agosto!

★★★★★  (5/5)

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Felipe Ernani

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